sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Felizes para sempre


Essa história não é uma história real.




Ela olha nos olhos dele.
- Se eu fosse embora, se eu sumisse você sentiria minha falta?
- Não. 
Ela abaixa a cabeça, e mexe os pés como gesto de quem precisava sair correndo pra chorar. Ele ergue seu queixo, e explica.
- Eu nunca sentiria sua falta, jamais. 
Uma lágrima do rosto da menina cai sobre suas bochechas rosadas. 
- Eu nunca te deixaria ir embora, pra precisar sofrer com isso. Eu te amo. – Tirava ele, as duvidas da garota
- Eu, não existiria sem você – falava à menina que entre lágrimas, começava a sorrir.
- E eu não viveria – Acrescentou ele.
- Mas devia. Você vai viver sem mim. 
Ele a olha com desprezo.
- Eu já disse, eu não vivo sem você, e eu não brinco. 
Ela olha pra ele, da um sorriso torto, toca no rosto do menino, lhe da um beijo, levanta do banco onde estavam sentados, e sai caminhando lentamente. Ele vai atrás.
- Me deixa – Diz a menina. 
- Eu não consigo, eu não posso. Você não me entenderia, mas parece que quando não estou perto de ti, algo dentro de mim falta, e fico me atormentando sem motivos. Você é tudo pra mim, e isso não é exagero, eu juro pra você.
Ele segura a mão da garota, e ela vendo o menino em desespero, olha dentro dos seus olhos e diz:
- Eu te amo muito. Promete que não vai esquecer disso? Promete? Promete que vai seguir a sua vida, sem mim? 
- Por que isso agora?
- Tchau, não venha atrás de mim. Eu te amo. Por favor, não insista. 
Ela vai embora. Ele a olha com olhos transbordando de lágrimas. Ele a amava, ela também.
Ele não admitia. Passou o resto do dia pensando na menina. Por que aquele assunto? Por que aquela conversa? Ele estava decidido; no dia seguinte o primeiro lugar em que iria, antes de qualquer coisa que precisa-se fazer, seria ir a casa dela; resolver esse assunto. Não havia nada mais importante que isso. Absolutamente, ela era tudo pra ele.
A noite foi insuportável, tanto para ela, quanto para ele. As situações eram diferentes, mas eles sentiam o mesmo. Dor, coração apertando, esmagando, triturando. Falta de ar, lembrar que um era o ar que o outro respirava. Amor. Simplesmente um amor verdadeiro. Duas pessoas que se amavam completamente, incondicionalmente; duas pessoas inseparáveis. Um amor de causar inveja em pessoas, um amor e não uma paixão, não uma ilusão, não um passa-tempo. Um amor, apenas um amor. 
Horas, pareciam não passar, mas o dia amanheceu. E era apenas sete horas da manha, quando ele saltou de sua cama, onde não havia pregados os olhos a noite toda, e saiu incansável até a casa da garota.
Ao chegar tocou a campainha, e sem nenhum pouco de calma, não agüentou ficar esperando abrirem a porta – ele invadiu a casa. Quando entrou, avistou imediatamente a mãe da garota, com olhos tensos e avermelhados, rouca, de pele extremamente pálida. Ela não estava bem.
- O que está acontecendo? Tudo bem com a senhora?  
- Você não sabe o quanto eu sinto. 
Ao ouvir as ultimas palavras da mãe que chorava, ele sentiu suas pernas amolecerem; ele entendeu. A garota não estava bem. Subiu as escadas para o segundo andar da casa, e se dirigiu rapidamente até o quarto da menina.
Ela estava deitada, no leito da morte. Acabada.
- Ah! O que ta acontecendo! - Ele estava desesperado. 
Ela sorriu pra ele.
- Não precisava ter vindo aqui.
- Ah meu amor, o que houve com você! O que aconteceu? -Lágrimas caiam do rosto do garoto, enquanto ele corria até a cama da menina, para apertar sua mão.
- Decidi morrer na minha casa. Eu não quis me internar, e essa foi a minha escolha. Já faz um bom que sofro de um câncer maligno. Eu não quis te contar, eu não quis te preocupar, eu não queria que as coisas mudassem. Eu estava bem, melhor impossível, do seu lado, e nada mais importava. – A calma da garota era absolutamente atordoante.
- Câncer. - ele repetiu para si mesmo outra vez. - Apenas câncer.
- Eu sei, deve ser horrível pra você. Droga! Você não devia ter vindo aqui! Por que você veio! - Usava seu tom de vós mais alto que conseguia, que mesmo assim era quase mudo. 
- Você devia ter me contado. Talvez pudéssemos mudar as coisas, talvez achássemos uma cura! Eu não posso perder você, eu só tenho você. Por favor, não me deixe sozinho. Eu lhe imploro.
- Você era minha cura. Você, por muito tempo, foi a minha cura. Faz um bom tempo que enfrento com minha família essa doença. Meus médicos estão surpresos por eu ter agüentado até agora, eles dizem que algo incrivelmente forte conseguia me manter viva, mas que isso não era remédio. Eles não fazem a idéia de que eu sei o que me faz querer viver, eles não têm idéia de que esse amor que tenho aqui dentro, que você, é o meu melhor remédio, a minha cura. Foi você quem me salvou até hoje, só você. E tudo era tão perfeito! Era como um sonho, e eu sabia que um dia eu teria que acordar, mas você não precisava sofrer comigo. Viver ao seu lado, já foi o meu melhor cuidado, poder amar, sentir, sonhar, viver, criar fantasias, isso eu só aprendi com você, e só você me fez bem. Eu nunca senti algo tão forte, quanto esse amor que tenho por você. – Dizia a menina ofegante, enquanto uma lágrima caia sobre o lençol. Ela não tinha muitos minutos.
Ele se joga de joelhos, ao pé da cama, e se lamenta, lamenta talvez por não poder salvá-la agora.
- Seus vizinhos, sua família; todos devem me achar louco, mas eu só tenho você. Não... Me... Deixe! – Falava o garoto, gaguejando só de tentar imaginar o que seria dele, sem ela.
- Obrigado por existir, obrigado por entrar em minha vida, obrigado por me fazer feliz pra sempre, obrigado por cuidar de mim, mesmo sem saber. Obrigado por me amar, obrigado por me dar essa oportunidade de te amar também. Obrigado por ter me feito à pessoa mais feliz desse universo. Eu te amo, e posso dizer, que pra sempre. – E essas foram as ultimas palavras, a ultima lágrima, e o ultimo sorriso. Ela faleceu.
Ele tocou nos lábios dela pela última vez, chorando, e a abraçou forte. Levantou, e a olhou novamente.
- Eu também, eu também te amo muito. - sussurrou ele, deixando uma lágrima cair sobre a blusa da garota. Ele desceu as escadas e olhou pra mãe da menina.
- Eu sinto muito. - ele se retirou da casa.
Ele, do lado de fora da casa, pode ouvir o choro alto da mãe da garota, e o barulho das escadas sendo pisadas forte e rapidamente.
A caminhada para casa foi longa e triste. Ele viu a menina partir, ele viu a garota que mais amou em toda sua vida, simplesmente ir embora pra não voltar mais, não agora. Ele viu a namorada dele, partindo, pela mesma doença que sua mãe. 
A infância do garoto havia sido terrível. Aos 10 anos, perdeu a mãe também vítima dessa doença; e seu pai, ao perder sua esposa, o abandonou. Ele dizia que o menino era muito parecido com a mãe, e que não iria agüentar. Ele partiu, e o deixou com uma tia mais próxima. Definitivamente, ele não via motivo algum em continuar vivo, até que conheceu a pessoa mais importante de sua vida.
Numa festa de escola, os dois sentando a duas cadeiras de distância, enquanto o resto da escola dançava alegremente. Música alta, lanches espalhados pelas mesas, balões expostos a quatro cantos, um DJ tocando, todas as garotas de vestido e todos os meninos de terno. Foi assim que tudo começou.
Ela estava sozinha, ele também. Por algum motivo, os dois que andara sempre cheio de amigos, naquele momento estavam sozinhos. Uma musica lenta. O DJ mostrando o casal separado por cadeiras, implorando para uma dança.
Ela se aproximou dele, com seu sorriso alto e largo e com um jeito meigo, ele não pôde deixar de notá-la, e assim começaram a conversar. Depois de quinze minutos, se tornaram mais um casal envolvido na dança. E aquele foi o começo de uma grande história, de uma história que não se encaixava com o presente em que hoje vivia.
Chegando à casa da tia, ele correu pro quarto, pensando em como prosseguir sua vida, como fazer da vida, um motivo pra viver. Pensar no sorriso, nas palavras, no carinho, nos beijos, nos abraços da garota, insinuava que ele não vivia, mas sim, que ele apenas existia, e existir era insuportável.
Nove e meia da noite, ele recebe uma mensagem no celular; era a mãe da garota, dizendo que o velório, aconteceria na mesma manha. A noite foi, outra vez, em claro. A manhã era mais importante do qualquer coisa. Eram seis horas, quando levantou da cama que não dormira, e se vestiu, totalmente de preto, partindo assim para o velório.
Tristes, quietos e inconformados; todos os parentes e amigos estavam assim. Ela era uma menina linda, querida, simpática, ótima garota, amada por todos; a perda não era forte só para ele, mas sim, especialmente pra ele. Passaram-se as horas, todos em um silêncio intenso, até a hora de enterrar a menina. Choros, lágrimas, uma mãe desesperada, e as pessoas em desespero; assim estavam todos os presentes. Ultimas palavras, ultimas frases. Hora de o garoto falar.
- Meu anjo. Hoje eu havia preparado algo diferente para nós, meus planos eram outros, hoje eu levaria você para almoçar no nosso restaurante predileto, e eu te faria o pedido mais importante, um pedido que eu sei que você estava esperando, um pedido que ia nos tornar eternamente juntos, até que a morte nos separasse, mas hoje, nesse mundo real, eu me encontro aqui, lutando para que tenha forças pra falar, eu te perdi, e não posso acreditar. Saiba que eu te amo mais que tudo, que sua vós é a única que me conforta, que eu estarei sempre ao seu lado. Que eu nunca te esquecerei. Saiba que você foi, e sempre será, quem em mais amei, quem eu sempre vou amar. Eu sinto muito, por não ter cuidado de você, por não ter te abraçado, te beijado, te dado caricias, manhas e aconchego, mais vezes, mas eu nunca me propus a imaginar que um dia isso fosse acontecer. Hoje eu não vivo, porque viver sem você não é viver. E agora eu só posso lhe dizer obrigado, obrigado por me fazer o homem mais feliz da face da terra. Eu te encontrarei em breve, para sermos felizes juntos. Eu te amo. - Ele joga uma rosa vermelha, junto a um anel de noivado. Estava óbvio; ele não esperaria por muito tempo sendo somente namorados, se aquilo não estivesse acontecendo.
Novamente choro. O garoto tirou lágrimas pesadas dos presentes, e dentre esses, a pergunta inevitável: O que ele queria dizer com "te encontrarei em breve"? Ninguém sabia. Logo em breve, a garota já não estava mais presente.
E aquele foi mais um dia. Foi o ultimo dia dele. 
Na manha do dia seguinte, o encontraram morto. Ele havia tirado a própria vida, ele estava tentando vê-la novamente. Ele ia conseguir. 
Foi um amor lindo, um amor onde nada se compararia ao que um sentia pelo outro, um amor onde não existiam barreiras, onde atitudes eram provas, e o coração um responsável. Um amor que durou a vida inteira, um amor nada mais e nada menos, que pra sempre.


E então, a que ponto de absurdo você chegaria por amor? 


Micaela Mariane

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